quinta-feira, 9 de junho de 2011

OS ANOS QUE NÃO VIVI


Outro dia, enquanto enquanto almoçava, conversava com um amigo, falávamos em como deveriam ter sido bons os anos em que ainda não éramos nem nascidos. A simplicidade da época, o estilo de vida das pessoas, a inexistência de termos como “estresse”, “enxaqueca”, “fast-food”, “engarrafamento”, “celular”, “internet” entre outros. Ficamos ali um bom tempo tentando nos imaginar vivendo como nossos bisavós.
Imaginamos que as pessoas daquela época eram mais felizes porque não sofriam as pressões sociais que hoje sofremos. Ainda não havia a tv para corromper os costumes das sociedades. Cada qual vivia do seu próprio jeito, conhecia o seu próprio mundo e o que acontecia a poucos quilômetros de onde você estivesse, você só saberia muito tempo depois, de maneira precária, e ainda assim, talvez. As pessoas nasciam, cresciam, tornavam-se jovens, casavam-se, tinham muitos filhos, trabalhavam, envelheciam e morriam muitas vezes sem nunca terem saído de suas cidades ou vilarejos. O mundo era muito pequeno e ao mesmo tempo parecia muito grande, pois tudo acontecia tão distante. A rede de relacionamentos era baseada no núcleo familiar e mais alguns vizinhos próximos, outros mais distantes que se encontravam semanalmente nas igrejas ou apenas em ocasiões especiais como velórios ou casamentos. Imaginamos como deveria ser gostoso o amanhecer ao som do canto dos pássaros, passar a manhã ouvindo o canto dos pássaros, o entardecer novamente ao som do canto dos pássaros e ao se deitar, ouvir uma coruja. No dia seguinte, acordar novamente ao som do canto dos pássaros, novamente passar a manhã ouvindo o canto dos pássaros, ver o pôr-do-sol ouvindo o canto dos pássaros e ao se deitar, o canto da coruja. Dia após dias aquela paz e tranqüilidade...
Nos olhamos por um momento, o silêncio tomou conta da conversa. O seu semblante estava estranho, parecia um tanto desmotivado, e acho que o meu igualmente devia estar, porque nos olhamos com espanto um para o outro. De repente o silêncio foi quebrado pelo toque do seu celular. Era da empresa, haviam problemas a resolver e ele deveria retornar imediatamente. Olhei para ele novamente e agora seu semblante estava mudado, como se aquele telefonema o tivesse despertado de um sono letárgico. Seu rosto se iluminou. Foi aí que olhei para o relógio e vi a hora, então me lembrei do compromisso e que já estava atrasado, que precisava me apressar também. Nesse momento ele abriu um sorriso e me disse: “bem vindo à vida! Bem vindo ao século 21, com sua tecnologia, seus estresses, fast-foods, engarrafamentos, celulares, internet e tudo o que temos direito”! E lá fomos nós ao encontro dos nossos problemas, apressados, mas felizes! 


18/01/2008


  
 

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