quarta-feira, 20 de abril de 2011

A TAL MEIA IDADE

"Navegar é preciso, viver não é preciso!"
Fernando Pessoa

             Na verdade não sei bem quando começa a meia idade, mas acho que já estou nela. É como estar na adolescência quando não somos  crianças nem adultos ainda. Na meia idade não somos mais jovens e ainda não somos velhos, nos dois casos vivemos um período de transição, uma espécie de buraco negro no tempo, o que acaba criando uma certa crise de identidade. Mas isso não é de todo mau, acaba dando oportunidades de autoconhecimento e uma certa dose de uma gostosa irresponsabilidade. O adolescente acaba podendo fazer o que quiser, pois, se faz coisa de criança tudo bem, afinal, ele ainda não é adulto e se faz coisas de adulto todos acham que já está se tornando um. Na meia idade não é diferente. Podemos nos comportar como jovens, porque afinal, nos dias de hoje os quarentões estão podendo mesmo e se nos comportamos como velhos ninguém nos cobra nada porque já estamos a caminho da terceira idade. Mas é um tempo de confusão mental porque os jovens nos acham velhos e os velhos nos acham jovens. Para os meus filhos e seus amigos(que geralmente me chamam de tio num tom pejorativo, o que eu detesto) eu já estou velho; se faço coisas de jovem estou “pagando mico”, já para minha mãe, suas amigas, meus tios, eu ainda estou “novo”, o que me deixa pra cima, envaidecido até. Por isso ultimamente tenho preferido a companhia dos mais velhos. Me acho muito jovem, minha cabeça pensa como jovem, ainda tenho um pique maior que muitos garotos. Trabalho, estudo, passeio, corro, vou a festas, ando pra lá e pra cá e  não deixo de fazer as coisas que gosto e com quem gosto, aliás, acho que hoje faço muito mais coisas do que quando tinha menos idade.
             Certo dia estava numa festa junina quando se aproximou de mim um senhor de idade avançada e começamos a conversar. Ele me contava que tinha quase noventa anos, o que me admirei porque estava em excelente aspecto, apesar de apoiar-se numa bengala por um pequeno problema na perna acontecido há poucos dias na academia. Isso mesmo, na academia. Contou-me de suas muitas aventuras na vida, de como era muito mais ativo quando era jovem como eu. Nossa! Fiquei ali ouvindo suas histórias e pensando em quanta coisa ainda tenho a realizar, afinal, para chegar à idade dele ainda me faltam quase os mesmos anos que vivi até hoje, o que não são poucos.
             A juventude é cruel com os mais velhos porque não sabe tirar proveito de sua companhia. Envelhecer não é e não deve ser motivo de tristeza, porém, muitos jovens fazem com que seus pais ou avós sintam-se como se estivessem perdendo o valor por adquirirem anos de vida. Pessoas não são como objetos que com o tempo depreciam, pelo contrário, pessoas são como obras de arte ou bons vinhos e com o passar dos anos ficam mais e mais valorizadas. Num mundo onde cada vez mais o que se tem é mais valorizado do que o que se é, os jovens correm o risco de achar que seus pais, avós, tios, professores, enfim, pessoas mais experientes tornam-se obsoletos muito rápido, com isso acabam perdendo a referência na vida. Estão tão acostumados a descartar roupas que saem da moda, computadores, aparelhos eletrônicos e celulares logo que lançam um modelo mais novo, mesmo que o seu esteja funcionando bem, que já não tem prazer em curtir a vida, vivem em função de ter coisas, por isso não sabem dar o valor necessário às pessoas mais velhas. Os anos ensinam muito a todos nós, inclusive a saber que envelhecer é um processo natural em que a vida vai tirando aos poucos a energia e a força física mas vai dando em contrapartida a tolerância, a sabedoria e uma força emocional que podem transformar as vidas daqueles que se dispuserem a conviver com os mais velhos.  A meia idade está sendo talvez o melhor momento da minha vida, pois é nela que estou descobrindo sua verdadeira beleza e seu sentido. Tenho aprendido a controlar a nau, a direcionar as velas na direção do norte, a controlar o leme tanto na calmaria quanto nas tempestades de sensações, não colocando em risco minha embarcação nem a tripulação que comigo navega. Já dizia o poeta: “navegar é preciso, viver não é preciso.”
             A vida não pode e não deve ser precisa, só assim podemos experimentar o verdadeiro sabor do que é viver. É justamente nessa incerteza que a tornamos mais bela, escrevendo em cada dia uma página da nossa história, sem sabermos qual será o final.       
www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlimasp

terça-feira, 12 de abril de 2011

VIAGEM POR SÃO PAULO


Enquanto navegava no oceano sobre uma Onda Verde, avistei um Novo Horizonte, depois de uma Ilha Comprida, que ainda era uma Ilha Solteira, sozinha no oceano, porém uma ilha bela. Vi um morro agudo, monte aprazível, um monte alegre. Girei o leme e naveguei até chegar  a uma praia grande e desembarcar naquele porto feliz. Adentrei o continente e deparei-me com uma casa branca ao lado de um brejo alegre, onde ao redor vi muita fartura. Bananal, laranjal, palmital, jaborandi, jambeiro, jaboticabal, limeira, pereiras, taquaral, tudo à disposição de lindas araras encarapitadas sobre um pedra bela. Vi campinas verdes e uma bela restinga.
Parei para fazer o registro de tudo. Avistei muitas águas descendo daquele monte mor, águas de um ribeirão corrente descendo e lavando todo o pedregulho. Na verdade havia mais de um ribeirão, havia um de águas escuras, um ribeirão preto, outro de águas alvas, um ribeirão branco, um que pelo seu traçado em meio àquele matão fizera-se um ribeirão bonito e mais abaixo um ribeirão grande e todos formavam um rio claro onde as águas desciam em meio à pedreira formando um saltinho, depois um salto maior e por fim um salto grande e lá embaixo uma lagoinha onde avistei um jaú. Que lugar! Um verdadeiro paraiso que mais parecia a morada dos santos. Quem sabe ali tivessem morado são paulo, são pedro...Segui subindo aquela serra negra até que lá em cima, pertinho do céu ela se tornou uma serra azul. Que vista alegre do alto, maravilhosa! Pude ver lá embaixo alguns valinhos e ao redor um vinhedo prestes a presentear o mundo com uvas frescas e belas. Olhei para o chão e vi a terra roxa, solo fértil, olhei para o céu e entendi porque tanta beleza, que luz brilhante naquele lugar de paz e aconchego, imaginei que seria até capaz de encontrar pedrinhas de ouro verde ali, ourinhos minúsculos de tanto brilho que vinha do chão, reflexo do sol que saía no oriente.
Que bela viagem foi aquela, inesquecível!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

AMOU-ME

Amou-me como nunca ninguém me amou
Deu-se por inteiro e não me cobrou nada
Ofereceu-me seu corpo, sem restrições
Sofreu por mim como ninguém jamais sofreu
Não ouviu aqueles que disseram não valer a pena

Eu, por minha vez não te entendi
No começo me apaixonei e até me dei
Mas com o tempo, não sei, aconteceu
Sua companhia já não me bastou
E simplesmente eu te disse adeus

Você continuou lá, como sempre
Falava comigo, convidava-me a voltar
Mostrava todo o teu amor
Mas nunca me constrangeu
Não me queria à força

Nada do que falava parecia me tocar
Meu ser conheceu outros amores
Minha vida tomou um rumo incerto
Você faz parte do meu passado
Eu agora ando num deserto

O tempo passou, sei que ainda está aí
Não fala mais comigo, mas sei que está aí
Sei que me ama como sempre me amou
Mas não me pede mais para voltar
Não me pede mais para voltar

Sei que não deixou de me amar
Não ouço mais a tua voz
Mas sei que ainda chama por mim
Eu não te escuto, estou na confusão
Porém quando estou só, é em você que eu penso

Sei que sente a minha falta
Como eu sinto a tua
Você continua aí no seu lugar
Eu me afastei e me perdi
Mas você continua no seu lugar

De braços abertos está a me esperar
Só depende de mim a decisão
O caminho eu conheço mesmo sem luz
Estou aqui, em meio à escuridão
Mas me aguarde, voltarei, porque te amo, Jesus.

www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlimasp


sexta-feira, 1 de abril de 2011

O VALOR DE UM ABRAÇO

Poucas coisas na vida são tão gostosas quanto um abraço. A qualquer hora, em qualquer lugar, de qualquer um e em qualquer um. Pode ser numa pessoa ou num bicho de estimação, um abraço traz uma sensação de conforto. 
Quantas vezes nos encontramos tristes e desanimados e recebemos um abraço de alguém e isso nos dá um novo alento, renova nossas energias, nos dá força para continuar uma jornada, nos impulsiona para a frente de batalha. Como é gostoso encontrar alguém e receber um abraço, retribuir e se sentir confortável. Um abraço é como um remédio para o doente, uma cama para o sonolento, um copo d’água para o sedento, um prato de comida para o faminto, um cobertor para o desabrigado. Um abraço traz calor para quem tem frio, paz para quem está angustiado, alegria para quem está triste, esperança para o desesperado, traz motivação para o desalentado e aconchego para o coração quebrantado. Neste mundo tão cheio de violência, tristeza, pressa, desumanidade, inimizade, tão carente de sinceridade, harmonia, segurança e bem-estar, um abraço minimiza as frustrações e preenche os vazios da alma.
Perdemos muita coisa por não abraçarmos mais. O abraço é de graça, não custa nada para quem dá e tem um valor inestimável para quem recebe, e neste caso, quando se dá também se está recebendo simultaneamente. Muitas vezes estamos nos sentindo estranhos sem nem saber o motivo e basta recebermos um abraço e todo o mal estar se dissipa. Vivemos numa sociedade que não dá valor às pequenas coisas e subvaloriza coisas importantes. O beijo e o sexo tornaram-se coisas fúteis nos dias de hoje. Jovens e adultos contabilizam a quantidade de beijos trocados numa noitada ou de parceiros sexuais em determinado tempo, banalizando suas intimidades e com isso tornando-se pessoas mais vazias, insatisfeitas e infelizes. Quanto mais beijam e fazem sexo com pessoas diferentes e sem envolvimento, menos satisfação têm. É a evolução da humanidade, se é que podemos assim chamar esse processo de banalização. Contrário à isso porém, o abraço jamais será banalizado, pois quanto mais damos e recebemos, mais benefícios angariamos. Esses sim, deveriam ser contabilizados e ao chegar ao fim da vida, dependendo de quantos abraços demos e recebemos poderíamos calcular o tamanho da nossa felicidade. Com certeza também, aqueles que abraçam mais vivem mais. Não é nenhuma afirmação científica esta, nem sei se existe algum estudo sobre isso, mas é a impressão que tenho, tamanhos os benefícios que o abraço traz. Por isso abrace mais. Abrace seu pai, sua mãe, seus irmãos, seus filhos, seus avós, seus vizinhos, o porteiro do seu prédio, seus colegas de trabalho, clientes, amigos e até seus bichos de estimação. Experimente a sensação de bem-estar que um abraço traz.
O abraço é sinônimo de carinho e proteção. Quando um determinado grupo de pessoas quer proteger a árvore da praça que querem derrubar para colocar um poste em seu lugar ou uma velha fábrica que querem demolir para construir um enorme edifício, ou um lago que querem aterrar para fazer um estacionamento, qual a atitude que tomam? As pessoas dão-se as mãos e formam um grande abraço em volta para proteger o objeto da atenção. Esse é o significado do abraço e só traz benefícios. Pense nisso e não perca mais tempo, abrace. Você só tem a ganhar com isso!