sexta-feira, 24 de junho de 2011

PERDAS

Tem coisas que só com o passar do tempo é que ficam para trás. Dizem que o tempo funciona como um remédio ou uma borracha de apagar. Quem já não ouviu frases como “o tempo curará essa ferida” ou “o tempo apagará isso da sua memória”. É, mas os remédios nem sempre curam totalmente e feridas deixam cicatrizes, bem como as borrachas deixam vestígios. Uma coisa é deixar para trás, outra é sentir-se curado ou apagar lembranças.
Quem nunca perdeu um alguém importante, seja para a morte ou para a vida. Sim, porque só há duas possibilidades de as pessoas saírem da nossa vida: morrendo ou indo viver suas próprias vidas sem a nossa companhia, e acredite, a segunda é a mais dolorosa. Quando alguém que amamos morre, sentimos uma dor profunda por saber que nunca mais teremos contato físico,  jamais ouviremos a sua voz, veremos seu sorriso, trocaremos confidências, jogaremos conversa fora, sentiremos seu cheiro, enfim, nunca mais desfrutaremos da sua presença. Mas, nesse caso temos a certeza de que esse alguém nunca mais fará isso porque sabemos exatamente onde está. Já quando perdemos alguém para a vida, fica uma sensação de perda e ao mesmo tempo de incapacidade, incompetência, inutilidade. Perder alguém para a morte não é demérito para ninguém, pois é sabido que esta é uma inimiga poderosa, atroz, implacável e imbatível que jamais será vencida por um ser humano normal. Já perder alguém para a vida é provar o gosto amargo da derrota, da humilhação de ter sido vencido, de não ter tido capacidade de ser para essa pessoa aquilo que ela esperava ou procurava, de não ter conseguido preencher os espaços em sua vida, de não ter atingido plenamente os seus anseios. Perder alguém para a vida não significa necessariamente perder para outra pessoa. Podemos perder para várias coisas e até pra ela mesma. Quantos pais perdem seus filhos para as drogas, quantas famílias perdem entes queridos para o álcool, quantos companheiros perdem seus amados para o trabalho. A sensação de dor e impotência diante dessas perdas é com certeza muito grande por saber que a pessoa a quem você dedica seu amor, sua atenção, seu carinho, não está mais interessada em receber isso de você preferindo estar em qualquer outra companhia ou até mesmo sozinha à estar com você. Mas, o que temos que aprender é que nem sempre somos os causadores da perda, ela pode se dar por uma questão interior da outra pessoa e por mais que lutemos contra, ela pode ser inevitável e aí nada mais há para fazer a não ser dar tempo ao tempo.
Certamente a perda é sempre dolorosa e o tempo realmente um aliado. Ao recordar alguém perdido lá atrás uma pontinha de dor pode aparecer, mas logo se dissipará como um punhado de pétalas lançadas ao vento. Quando perdemos alguém, seja para a morte ou para a vida,  podemos ter ao menos uma certeza – o tempo não cura nem apaga, ele pode deixar cicatrizes em nosso coração ou vestígios em nossa mente, mas com certeza ele ameniza a dor e a angústia porque é um maravilhoso amigo com quem podemos contar sempre!

www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlimasp   em 13/03/08

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ASSASSINATO DO PORTUGUÊS


Não se trata de um texto policial nem de humor, mas dadas as circunstâncias políticas atuais do nosso país dá para encará-lo como humorístico, uma vez que a classe política está repleta de palhaços. E não estou me referindo ao Deputado Tiririca somente, mas a todos os políticos que só pensam em números e estatísticas. 
Agora, com as novas regras do Ministério da Educação, finalmente o Brasil terá o índice de analfabetismo reduzido a zero. Estou com pena dos professores de língua portuguesa, que sempre sofreram com a tremenda dificuldade de aprendizado dos nossos estudantes e que agora vêem sua disciplina ser simplesmente jogada no lixo. Com os novos livros que estão sendo distribuídos onde constam termos horrorosos considerados corretos não será mais necessário ensinar a língua na escola, para quê? Doravante o português que se aprende em casa e na rua vai passar a ser o português correto, haja vista que não haverá mais erros de linguagem. Cada um fala o que quer e como quer e ninguém tem nada com isso. Ou seja, todo brasileiro que souber ler e escrever qualquer coisa, independentemente de como fará isso, não será mais analfabeto. Ponto para o Ministério da Educação, a taxa de alfabetização atingirá o patamar de 100% rapidinho e será mais elevada que o de qualquer outro país, pois, afinal, segundo as novas regras todo brasileiro saberá ler e escrever corretamente. 
Assim fica fácil. Já estou preocupado com o índice de criminalidade. Se a moda pega as leis serão abolidas e não haverá mais crime, pois tudo será permitido, assim, não haverá índice de criminalidade e o país será um paraiso. Bom, na verdade isso até já começou ao descriminalizarem o uso de drogas. Os drogados, ou melhor, dependentes químicos, coitados, são doentes. Concordo, são sim. Mas consomem droga ilícita adquirida de maneira ilegal, portanto, estão sim na ilegalidade, pois quem compra produto de furto, roubo ou contrabando também é considerado infrator da lei. Sem contar os inúmeros crimes que esses doentes cometem e acabam impunes pois seus defensores alegam que os tais agiram sem ter a consciência do que estavam fazendo por estarem sob a influência de drogas, assim, sob a tutela da lei, que aí sim, é aplicada, acabam livres para continuarem praticando o que mais sabem, assassinando o português e de quebra, alguns cidadãos também.

www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlimasp


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quinta-feira, 9 de junho de 2011

OS ANOS QUE NÃO VIVI


Outro dia, enquanto enquanto almoçava, conversava com um amigo, falávamos em como deveriam ter sido bons os anos em que ainda não éramos nem nascidos. A simplicidade da época, o estilo de vida das pessoas, a inexistência de termos como “estresse”, “enxaqueca”, “fast-food”, “engarrafamento”, “celular”, “internet” entre outros. Ficamos ali um bom tempo tentando nos imaginar vivendo como nossos bisavós.
Imaginamos que as pessoas daquela época eram mais felizes porque não sofriam as pressões sociais que hoje sofremos. Ainda não havia a tv para corromper os costumes das sociedades. Cada qual vivia do seu próprio jeito, conhecia o seu próprio mundo e o que acontecia a poucos quilômetros de onde você estivesse, você só saberia muito tempo depois, de maneira precária, e ainda assim, talvez. As pessoas nasciam, cresciam, tornavam-se jovens, casavam-se, tinham muitos filhos, trabalhavam, envelheciam e morriam muitas vezes sem nunca terem saído de suas cidades ou vilarejos. O mundo era muito pequeno e ao mesmo tempo parecia muito grande, pois tudo acontecia tão distante. A rede de relacionamentos era baseada no núcleo familiar e mais alguns vizinhos próximos, outros mais distantes que se encontravam semanalmente nas igrejas ou apenas em ocasiões especiais como velórios ou casamentos. Imaginamos como deveria ser gostoso o amanhecer ao som do canto dos pássaros, passar a manhã ouvindo o canto dos pássaros, o entardecer novamente ao som do canto dos pássaros e ao se deitar, ouvir uma coruja. No dia seguinte, acordar novamente ao som do canto dos pássaros, novamente passar a manhã ouvindo o canto dos pássaros, ver o pôr-do-sol ouvindo o canto dos pássaros e ao se deitar, o canto da coruja. Dia após dias aquela paz e tranqüilidade...
Nos olhamos por um momento, o silêncio tomou conta da conversa. O seu semblante estava estranho, parecia um tanto desmotivado, e acho que o meu igualmente devia estar, porque nos olhamos com espanto um para o outro. De repente o silêncio foi quebrado pelo toque do seu celular. Era da empresa, haviam problemas a resolver e ele deveria retornar imediatamente. Olhei para ele novamente e agora seu semblante estava mudado, como se aquele telefonema o tivesse despertado de um sono letárgico. Seu rosto se iluminou. Foi aí que olhei para o relógio e vi a hora, então me lembrei do compromisso e que já estava atrasado, que precisava me apressar também. Nesse momento ele abriu um sorriso e me disse: “bem vindo à vida! Bem vindo ao século 21, com sua tecnologia, seus estresses, fast-foods, engarrafamentos, celulares, internet e tudo o que temos direito”! E lá fomos nós ao encontro dos nossos problemas, apressados, mas felizes! 


18/01/2008


  
 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

CONHECIMENTO X INFORMAÇÃO

Andei me perguntando ultimamente se tenho realmente conhecimento ou apenas informação sobre as coisas que julgo conhecer. Hoje em dia, com os meios de comunicação cada vez mais avançados e rápidos, com a velocidade medida em kbps, megas, gygas, etc., as informações se atualizando a cada segundo na tela do computador, os canais de televisão com programação integral de notícias, fica difícil acompanhar tudo. A impressão que dá é que não sobra tempo para mais nada a não ser se informar para não ficar desatualizado. Mas quem consegue ficar atualizado com todos os fatos que acontecem no mundo todo à todo momento? É uma corrida desenfreada por uma informação atrás da outra que nem dá para se aprofundar nos assuntos. Antigamente as pessoas tinham o dia todo para ler o jornal. Hoje, às 10 horas da manhã as notícias do jornal impresso já estão desatualizadas, os fatos que estão noticiados já mudaram e muitos fatos novos aconteceram. Que loucura esse turbilhão de informações bombardeando nossas mentes o tempo todo!
Diante dessa avalanche que se esparrama sobre mim, quando alguém comenta algum acontecimento que foi noticiado e que eu não tenho conhecimento, sinto-me um ignorante. Aí eu corro atrás da notícia para ficar bem informado. Mas espera aí, eu não tenho obrigação de saber tudo o que está acontecendo no planeta, e, afinal, se eu não souber em primeira mão, com certeza se for um fato relevante irei saber a qualquer momento. A solução para não me sentir ignorante é selecionar os assuntos que realmente são importantes para mim e ficar inteirado deles, buscar conhecer seus conteúdos e beber com satisfação as informações que me chegam. Os assuntos que me forem menos importantes devo dar uma olhada de largo para saber apenas que existem. Se fizer assim com certeza não ficarei tão estressado com tanta informação desnecessária em minha mente e passarei a ter mais conhecimento do que informação. Há uma grande diferença entre essas duas coisas. O conhecimento vai além da informação. Conhecer é explorar, buscar com mais vagar, ir fundo, além do superficial, é se inteirar realmente do assunto. Parece que hoje as pessoas estão mais preocupadas em estar informadas do que em adquirir conhecimento. As escolas, ao que parece, não estão ensinando os alunos a pensar, buscar conhecimento, questionar, filosofar mesmo. O que se vê são escolas mais preocupadas em se informatizar e dar aos alunos acesso à internet do que em ampliar suas bibliotecas com livros impressos para criarem o hábito saudável da leitura e da busca do conhecimento. Não que os computadores e a internet não sejam úteis nas escolas, claro que são, mas o conceito que se tem de escola hoje é que se não estiver informatizada não é uma escola ideal para educar os futuros cidadãos, o que a meu ver é um erro. “Um país se faz com homens e livros” disse Monteiro Lobato. Eu acredito que isso ainda não tenha mudado. O avanço tecnológico de maneira nenhuma pode substituir o prazer da busca pelo conhecimento através dos livros pois é neles que está todo o alicerce do saber.
É imperioso mostrar aos jovens a importância de se adquirir conhecimento e não apenas informação, questionar em vez de engolir o saber como se engolem cápsulas de vitaminas esperando que o resultado apareça. Ensinar a pensar é mais difícil do que informar, e é exatamente disso que a humanidade está carente, de seres pensantes em vez de acumuladores de informação. Se perguntamos a um jovem sobre Sócrates, Aristóteles, Platão, Demócrito, Hegel, Kant, Tomás de Aquino e outros filósofos ficamos surpresos com a total ignorância à respeito de quem eram. Os pensadores estão esquecidos e mal sabem os futuros cidadãos que se não fosse por eles ainda acreditaríamos que a Terra é o centro do universo e que o sol gira em torno dela ou outras coisas que hoje são tão absurdas mas que um dia a humanidade acreditava e passou a conhecer melhor a si mesma e o mundo em que vive graças à preocupação de alguns homens que se dedicaram a pensar sobre isso. A vida é dinâmica e não deve ser vivida como se tudo viesse pronto, é preciso que cada um descubra-se a si mesmo e tudo o que está em sua volta. Menos informação e mais conhecimento, é disso que carecemos.
 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

BATALHA CONTRA O TEMPO

Ah, meu jovem, não penses que terás sempre essa idade. Pois saiba que eu também já tive a mesma. Mas o tempo, ah! o tempo...Esse vilão implacável, inflexível, inexorável. Com ele não tem acordo. Não vás pensando que com tua esperteza poderás enganá-lo, não há lugar pra te esconderes dele, onde quer que fores, lá estará ele. Tu, com toda a tua inteligência e prepotência, com todas as técnicas de negociação que aprendeste nos bancos de uma faculdade, com todos os conhecimentos científicos adquiridos, com as melhores notas em matemática, com diploma de honra ao mérito em administração, ou com distinção em medicina plástica ou genética. Nada disso irá ajudar-te, pois ele não negocia. Ele não se dobra à ciência, é empírico mesmo. A ele não se soma ou multiplica, dele apenas se subtrai ou se divide.  Não se deixa enganar por quem tenta administrá-lo, é ilusão achar que podes, muito menos permite que disfarces o prendam fazendo-o parar.
Ah! meu jovem, pena que não compreendes o que te digo agora porque achas que terás a juventude para sempre, mas não conheces o teu inimigo; o tempo. Não traves uma batalha contra ele, pois irás perdê-la. Não o desafies nem o afrontes, pos ele rirá de ti, porque tuas armas, por mais modernas e poderosas que possam parecer não passam de piada para ele.
Mas existem algumas maneiras de não te sentires um perdedor diante dele. Por exemplo: 
Nunca faças nada que não te traga pelo menos um benefício (não perca teu tempo em coisas fúteis);
Não o deixe escapar entre teus dedos, já que não podes vencê-lo, alia-te a ele, vá aonde ele for, e volte com a sensação de que valeu a pena (tudo o que fizeres, faça valer a pena);
Nunca o deixe perceber que estás te sentindo derrotado por ele, viaje com ele de primeira classe, não permitas que ele te leve na classe econômica (viva feliz, faça escolhas certas pra não te arrependeres depois e ter que escolher novamente, mas, se tiver de fazê-lo, aproveite o que aprendeste com a experiência anterior);
Jamais lamente o que passou, porque não voltará(olhe pra frente e tenhas projetos para o futuro, sempre).
Ah! meu jovem, se conseguires fazer algo parecido com isso sentir-te-ás melhor em relação ao teu inimigo, pois mesmo sabendo que ele te derrotará no final, vais levar o desfecho dessa batalha para o mais longe possível e quando chegar o momento de depores as tuas armas, serás reconhecido pelo teu inimigo como um bravo, um guerreiro que não se entregou e não se deixou abater. Então terás conquistado o respeito merecido.

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