quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

MEU AMIGO MICHAEL JACKSON



Hoje estava ouvindo algumas músicas antigas e entre elas havia algumas do Michael Jackson. Bateu uma nostalgia e lembrei-me do texto que escrevi logo após sua triste morte em 2009 e resolvi publicá-lo aqui.
     
Quando eu tinha apenas 11 anos conheci Michael Jackson. Um garotinho negro, cabelos no estilo black power muito usado na época pelos jovens. Ele tinha 14 anos e uma voz inconfundível. Haviam duas músicas dele num compact disc de vinil que eram verdadeiras maravilhas - Ben e Music and Me. Eu era apaixonado por essas músicas. Naquela época eu frequentava festinhas em casas de amigos da minha idade e a gente dançava com as meninas de rosto colado as chamadas músicas lentas. Havia uma magia naquelas músicas do Michael, talvez pela sua voz, pelo seu carisma ou pela sua presença que era muito marcante. Ele era o sonho de qualquer um de nós, um garotinho tão talentoso e belo. Eu queria ser ele, e meus amigos também. Quando dançávamos essas músicas sempre rolava um climinha romântico e por isso eu considerava o Michael meu amigo, afinal, ele me ajudava a ganhar as garotas.
Os anos foram passando e cada um seguiu o seu destino. O Michael foi se tornando uma das maiores celebridades do planeta, lançando um sucesso estrondoso atrás do outro, arrebanhando milhões de fãs e arrastando atrás de si enormes multidões de apaixonados ao redor do mundo, enquanto eu seguia meu caminho com os poucos amigos que tinha, uma namorada que se tornara esposa, depois vieram 3 lindos filhos. Eu só via o Michael pelos clipes de tv e o ouvia através dos discos, depois vieram os cd's e finalmente os dvd's onde eu podia vê-lo e ouvi-lo. Porém, à partir de determinada época não eram mais as músicas ou os clipes dele que chamavam a atenção e sim os grandes escândalos envolvendo seu nome. Os mistérios que o tornaram um ser bizarro, estranho, com atitudes nada ortodoxas fizeram o resto do seu caminho. Enquanto meus filhos cresciam, eu trabalhava, minha vida seguia um curso normal, a do Michael caminhava por uma estrada acidentada, em meio a uma névoa densa, cercada por abismos sem fim e ele sabia disso. É claro que tenho meus percalços, nem tudo são flores, há problemas, mas nada comparado à vida de Michael. Aparentemente sua alegria de  viver desaparecera, tornara-se um ser totalmente sombrio e absolutamente infeliz. Parecia que a grande insatisfação tomara conta de sua existência e nada podia resgatar aquele garoto brilhante de outrora. Dinheiro, sucesso, fama, poder, talento, inteligência, carisma. Parece que nada disso mais fazia sentido pra ele. Aliás, parece que tudo isso foi exatamente o que fez dele uma pessoa amarga e infeliz.
Hoje, ao olhar para nossas vidas percebo que eu não queria ser ele. Depois de tantas transformações físicas e comportamentais nem sabia mais quem era o meu amigo Michael Jackson. Aquele garotinho bonito, talentoso e carismático desaparecera. Aos 50 anos ele se foi, enquanto que eu, aos 47 parece que ainda tenho um longo caminho a percorrer. Claro que não sei o que poderá me acontecer hoje, amanhã ou em breve, o que quero dizer é que eu tenho uma vida feliz e vivo-a intensamente, enquanto que ele já perdeu a dele há muito tempo. O que restava de seu frágil corpo sucumbiu e hoje será sepultado, porém, o verdadeiro sepultamento de Michael Jackson já se deu em algum dia e lugar no passado. Hoje apenas se formaliza a derrota de um ser humano que tinha tudo para ser um vencedor, mas perdeu. Perdeu para a vaidade, para a solidão, para a total falta de estrutura emocional para lidar com a vida. 
Adeus meu amigo, adeus. Descanse em paz, você será sempre lembrado pelas coisas boas que fez aqui. Sempre estará nas memórias, nos aparelhos de som, nos clipes de tv, mas principalmente nos corações de seus fãs, entre os quais me incluo. 


Leia mais, acesse Recanto das Letras

2 comentários:

  1. um crônica bem escrita e bem articulada com o real e o emocional. ZZ

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    1. obrigado, também li algumas de suas poesias e gostei. Costumo dizer que ler é viajar e escrever é pilotar a nave, e você a pilota muito bem.

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