terça-feira, 10 de maio de 2011

CAMINHO SUAVE


        
Hoje estava lembrando de minha alegria quando tinha apenas 7 anos e fui pela primeira vez à escola. Lá no interior do Paraná, em Ivaiporã, na escola Idália Rocha recém inaugurada, comecei a dar meus primeiros passos em direção ao saber. Lembro-me que vestia um guarda-pó branquinho, calças curtas, levava o material numa bolsa à tira-colo com o desenho da Branca de Neve e os sete anões e na lancheira sempre um pedaço de pão com manteiga e o delicioso leite com açúcar queimado que minha mãe carinhosamente preparava.
          Na escola, antes de entrar para a sala de aula, formávamos filas e em posição de sentido aprendíamos a cantar o hino nacional brasileiro. Em algumas ocasiões cantávamos também outros hinos cívicos. Lembro-me da minha primeira professora, dona Ivonzete, a quem minha prima e colega de classe Meire insistia em chamar de dona Fonsete. Foi a dona Ivonzete quem me ensinou as primeiras letras e, para tanto, usava a cartilha Caminho Suave. Recordo-me bem dessa cartilha porque sua capa era muito bonita, tinha uma bela estrada com um céu azul ensolarado, um menino e uma menina caminhando por aquela estrada limpa margeada por uma grama verdinha e uma árvore florida, e ao fundo a tão apreciada escola. Aquela gravura fazia-me sentir bem e com a certeza de que minha vida seguiria aquele caminho suave.
           Realmente aprendi a ler e escrever de maneira suave e prazerosa através daquela cartilha, cujo título era inspirador, mas quando olho minha vida e tudo o que já passei, o caminho que percorri, percebo que o caminho nunca foi suave e talvez por isso mesmo eu ache que a vida vale a pena ser vivida. O grande escritor campineiro Rubem Alves publicou um livro cujo título é "Ostra Feliz Não Faz Pérola". O que ele quer dizer em seu livro é que alguém que não enfrenta dificuldades e não sofre dores nesta vida não cria nada, não produz nada de valor. Se a estrada da minha vida fosse uma "free-way" maravilhosamente asfaltada, sem buracos nem obstáculos, talvez eu não desse tanto valor à ela quando dou. A vida só tem graça porque no caminho existem percalços, deslizes, trepidações que nos obrigam a ficar atentos e a tomar decisões de parar, seguir, diminuir ou aumentar a velocidade em determinados trechos. Muitas vezes até precisamos ser rebocados para sairmos de algum atoleiro e é aí que contamos com a solidariedade das pessoas que nos cercam, porque no caminho nunca estamos sozinhos. Morei no estado de Rondônia por vários anos e viajei muito pela BR 364. Era uma calamidade cada vez que saía para uma viagem, fosse no sentido sul, rumo à Cuiabá ou no sentido norte rumo à capital Porto Velho. Havia trechos em que um automóvel cabia quase inteiro dentro dos buracos que se formavam ao longo da pista. Uma viagem que normalmente se faria em 6 ou 8 horas numa estrada em bom estado, era feita em 12 ou 14 horas, mas sempre o final da viagem era comemorado com muita alegria, com aquele sentimento de ter feito algo especial, de ter vencido uma batalha. Ninguém comemora o fim de uma viagem tranquila numa estrada perfeita. É por isso que os ralis automobilísticos e outros esportes radicais despertam tanto interesse em algumas pessoas que sentem necessidade de vencer desafios e obstáculos. Essa é a diferença, é o que dá sabor à vida; o vencer as dificuldades pelo caminho.
           Ao chegarmos neste mundo não nos é entregue uma cartilha, ainda bem, porque com certeza não teria o título Caminho Suave e se fosse entregue uma com algum título do tipo Caminho Árduo certamente não nos inspiraria a viver. Por isso, sempre que penso na minha existência, penso que ela tem o seu valor porque em meio a tantas adversidades do caminho tenho vencido e estou aqui, olhando para frente e imaginando que chegará um dia em que trilharei o caminho suave, e nesse dia já terei vencido todas as batalhas e terei fabricado uma linda pérola.

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